UniLúrio co-organiza debate sobre sistemas alimentares
Decorreu na tarde desta terça-feira, 19 de Fevereiro, no New Hotel, em Nampula, um debate sobre “Sistemas Alimentares como meio de promoção da nutrição”, organizado pela GAIN (Aliança Global para Melhor Nutrição), em parceira com o Curso de Nutrição, da Faculdade de Ciências de Saúde (FCS), da Universidade Lúrio (UniLúrio).
Convidado a fazer a abertura do evento, o Magnífico Reitor da UniLúrio, Prof. Doutor Francisco Noa, destacou a importância de debates sobre temas do género, considerando um caminho estratégico para melhor encontrar soluções que ajudem a colmatar as diversas dificuldades enfrentadas em aspectos ligados a desnutrição.
Falando para os estudantes presentes naquele evento, Francisco Noa desafiou os mesmos para que do conhecimento adquirido, no processo de ensino e aprendizagem, agissem no sentido de propor soluções viáveis que ajudem a resolver, em parte, os problemas enfrentados ao nível do país.
“Estamos prestes a assinar um Memorando de Entendimento com a GAIN (da Fundação Bill e Melinda Gates) como forma de traçar caminhos para resolver problemas nas áreas de nutrição” – afirmou, explicando que “a nossa presença (no evento) é para mostrar a importância que a UniLúrio coloca na necessidade de melhorar/mudar os hábitos alimentares das comunidades”.
Na voz do representante do Governo, o Director Provincial da Agricultura, Jaime Chissico, ao fazer uma breve leitura, disse que “[…] temos défice nas hortícolas, na produção de carnes. Por outro lado, temos produção excessiva no milho, mandioca e outros. Por esta via, pode-se fazer substituição para que a população tenha alimentação equilibrada. A questão é saber como fazemos o uso dos alimentos que temos”.
Jaime Chissico teceu tal discurso, reforçando a ideia de que o Governo tem promovido mecanismos para a redução e, quiçá, eliminação dos problemas ligados à desnutrição, tendo acrescentado que “o esforço do governo é fortificar a produção de hortícolas para equilibrar a dieta alimentar”.
Para o Prof. Doutor Lawrence Haddad (formado na Universidade Stanford), um economista britânico cujos principais interesses de pesquisa são a intersecção da pobreza, insegurança alimentar e desnutrição, incluindo a dinâmica da pobreza, capital social, HIV / AIDS, protecção social, agricultura, pobreza e empoderamento das mulheres, falar dos sistemas alimentares como meio de promoção da nutrição significa fazer uma leitura da conjuntura social, para perceber como são segmentadas as actividades, rumo a uma melhor alimentação, o que eliminaria os problemas de desnutrição.
Já em 1997, no seu livro “Achieving food security in southern Africa: new challenges, new opportunities”, Lawrence Haddad discutia as ideias segundo as quais as lutas civis, a seca e a estagnação económica uniam forças na África Austral para produzir fome e pobreza severas. Como forma de ultrapassar tais problemas, pode-se perceber no livro, que reúne diversos especialistas, a necessidade de consideração das áreas de política alimentar: reforma macroeconómica e comercial, agricultura familiar, gestão de recursos hídricos, programas de segurança social e rede de segurança e infra-estrutura rural, como forma de iniciar um caminho para aumentar a segurança alimentar, a equidade e o crescimento económico.
Citar tal manual, no contexto do debate havido, mostra ser de extrema relevância olhando para o facto de Lawrence Haddad ter mostrado dados preocupantes que indicam que, por exemplo, o “consumo de comida inadequada é o principal denominador de toda a má nutrição”.
Segundo Haddad, “Uma dieta pobre contribui para quatro (de dez) factores de problemas nutricionais em Moçambique”, daí que adverte a necessidade de haver mais preocupação com o que se come, como meio de ultrapassar as dificuldades enfrentadas.
“É surpreendente quando olhamos para dados da UNICEF e vemos que apenas 28% das crianças em Moçambique tem acesso a uma dieta diversificada mínima” – disse, problematizando o facto de os preços dos alimentos com mais nutrientes serem os que mais se mostram caros.
Como recomendação, aquele Professor, com reconhecimento internacional, advertiu o melhoramento de acesso a alimentos nutritivos, a criação de uma ligação forte com as empresas de negócios e aumentar o acesso de alimentos nutritivos.
Dados do “Relatório da Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional”, de 2017, publicado pelo Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA), através do SETSAN (Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional), ao falar dos distritos mais afectados pela desnutrição aguda, mostram que, por exemplo, para o caso de Chiúre, o consumo inadequado de alimentos é um dos factores de maior contribuição para a incidência da desnutrição aguda.
O estudo revela ainda que apesar de 50% das crianças ter uma frequência mínima da dieta, a maioria das vezes esta não é diversificada e adequada, com apenas 2.5% das crianças com uma diversidade da dieta mínima (MDD) e dieta mínima aceitável (MAD).
Outros números, encontrados no estudo, “Reflectindo sobre a Desnutrição Crónica: os Desafios da Construção de um Capital Humano Sustentável em Moçambique”, publicado pelo ROSC (Fórum da Sociedade Civil para os Direitos da Criança), em 2014, avança dados que indicam que em Moçambique, 43% de crianças menores de 5 anos sofrem de desnutrição crónica moderada e 20% sofrem de desnutrição crónica grave, enquanto 8% de crianças são afectadas pela desnutrição aguda.
Numa leitura da situação do país, o estudo ilustra que a desnutrição crónica permanece mais elevada na região Norte do país, com taxas de prevalência entre 47% e 55%, seguida da região Centro com taxas entre 36%e 45% e da região Sul, que possui taxas entre 23%e 36%.
Como formas de ultrapassar tais problemas, o relatório publicado pelo SETSAN (2017) avança recomendações de curto - prazo necessárias para responder a desnutrição aguda. Das mesmas, consta a necessidade de implementar intervenções de saúde e nutrição integradas ao nível das comunidades que inclua acções de prevenção, rastreio e tratamento da desnutrição aguda através de brigadas móveis, que devem incluir: Busca activa nas comunidades; Imunização; Suplementação de Vitamina A e desparasitação; assim como o aconselhamento sobre alimentação infantil (demonstrações de culinárias, anúncios radiofónicos, teatros comunitários) e o melhoramento da qualidade da água através da distribuição de CERTEZA.