Dois profissionais da Clínica de Optometria formados em Próteses oculares
Dra. Isaura Brito dos Santos - Directora do Curso de Optometria
Falar dos problemas visuais é e sempre foi um problema de grande preocupação. Particularmente em Moçambique são vários os casos registados, desde crianças até aos adultos. Um dado importante a se destacar tem a ver com o facto de em Moçambique, a Faculdade de Ciências de Saúde (FCS), da Universidade Lúrio (UniLúrio), ser a única Instituição de Ensino Superior que forma profissionais da área de Optometria.
É mesmo olhando para esta particularidade, e à necessidade de melhor perceber como funciona o curso de Optometria, que o Departamento de Comunicação e Imagem (DCI) procurou a Directora do Curso de Optometria, Dra. Isaura Brito dos Santos (IBS), para, em forma de entrevista, percebermos melhor, por exemplo, os fatores que possam afetar a saúde dos olhos e alterar a visão, assim como os cuidados de manutenção a ter com os meios ópticos (óculos), tendo em conta as lesões, patologias e outros estados oculares anormais.
É certamente um caso para dizer "use óculos" e nos acompanhe nesta breve entrevista.
DCI: Pode nos falar da situação actual do Clínica de Optometria?
IBS: A Clínica, por ser Universitária, tem a parte prática com os estudantes estagiários, a qual promovemos muito e também a parte com os profissionais. A clínica fica aberta das 08:00 Horas às 17 Horas.
Contamos, na Clínica, com a poio dos estudantes, que fazem as consultas com a supervisão dos docentes (sempre), e contamos com consultas feitas por profissionais. As consultas com os estudantes são sempre pré-marcadas e depois fazemos uma chamada confirmando a hora ou o dia da consulta.
O trabalho tem sido dinâmico. Temos muito material na clínica. Quanto à área de optometria temos, oftalmoscópios, retinoscópios, lâmpadas de fenda (etc) que permitem um exame visual e ocular completo. Quando o paciente chega às nossas instalações passa por vários testes de modo a ter um exame visual completo, razão pela qual os exames têm sido mais demorados (30min).
DCI: Quais as perspectivas de crescimentos para o ano 2019?
IBS: Já começamos a alcançar alguns pontos, como fecho de novos memorandos (no curso em geral). Pretendemos ter alguém fixo que faça manutenção dos equipamentos. Para alguns materiais que não estão funcionais temos parceiros que vão ajudar a facilitar e dinamizar o trabalho (recuperação dos mesmos).
DCI: Pode nos falar de projectos que estão a decorrer na Clínica?
IBS: Temos parcerias na parte da óptica. Temos fornecedores internacionalmente reconhecidos que nos quais adquirimos, a preço baixo, óculos de alta qualidade e preços acessíveis - e fazem uma entrega rápida do material. Estamos a estabelecer parcerias com uma instituição espanhola em relação ao curso de pós-graduação em Optometria Pediátrica, que é um curso teórico-prático, sendo que as teorias são online e práticas nas nossas clínicas. Temos potenciais parceiros, como a Universidade de Alicante que certamente serão grandes aliados para rumarmos a um sucesso cada vez mais visível ao nível da Clínica e formação contínua dos nossos docentes.
DCI: Como está a componente pesquisa na Clínica?
IBS: Justamente pelo facto de os clínicos que lá temos serem docentes e por termos estudantes envolvidos, por causa dos trabalhos de culminação do curso e interesse académico dos docentes estamos sempre envolvidos na pesquisa. Temos feito várias pesquisas científicas, tanto nas nossas instalações (estudantes e tutores), assim como fora da instituição. Temos feito rastreios nas escolas, dados que usamos para divulgação quando concedida permissão, assim como temos relações com instituições, nas quais fazemos estudos, investigações e apresentamos os resultados.
DCI: Pode nos falar da mobilidade (caso exista com organizações externas)?
IBS: No ano passado recebemos um Optometrista voluntário (do Brasil), o qual apoiou a parte clínica e científica do nosso curso. Recebemos igualmente um Docente espanhol, há um mês com quem trabalhamos no curso de Optometria na área de investigação e parte do processo de revisão curricular. Temos ainda mantido contactos, no sentido de enviar alguns estudantes para fora do país, assim como receber estudantes das universidades de fora.
DCI: Há uma componente existente na Curso de Optometria que tem a ver com as comunidades e programas de extensão. Como está esta actividade na Clínica?
IBS: Até então muito boa. A componente comunitária está inserida no nosso programa curricular, o programa "Um estudante, Uma família", no qual estudantes tem ligação com as comunidades, usando-se da oportunidade para aconselhar a família, a comunidade, acompanhar os resultados e tentar aprender com as famílias e melhorar a os hábitos de saúde. Sempre que necessário providenciamos cuidados de saúde ocular e visual a estas comunidades. Quanto aos programas de extensão, temos também desenvolvido feiras de saúde, através das quais temos feito rastreios visuais, aconselhamentos, encaminhamentos e por vezes tratamentos às pessoas.
Temos em Agosto o programa anual "Moçambique te vejo melhor", através do qual vamos, ao nível dos distritos, mantemos contacto com escolas e autoridades locais, no sentido de fazer rastreio visuais a população estudantil, sendo uma forma de prestar serviços e ajudar as comunidades.
DCI: Olhando para o Curso de Optometria, leccionado na FCS, qual tem sido a relação ou ligação com a Clinica?
IBS: No segundo ano os estudantes entram em aulas práticas, nas quais aprendem as disciplinas mais laboratoriais, as partes técnicas do curso. Estes começam nesta fase a praticar os exames optométricos, entre eles e aprendem as técnicas e uso dos instrumentos. Depois de praticarem, entre eles, passam para a segunda fase que é de atender os pacientes, com supervisão dos docentes.
Nenhum teste invasivo, que agride o paciente, é feito pelo estudante sozinho - porque está sempre com a supervisão dos docentes. A nossa clinica é basicamente universitária. A intenção é permitir que os estudantes possam praticar, mas também oferecer às comunidades serviços de saúde de qualidade e acessíveis .
DCI: Nos fale um pouco dos Recursos Humanos...
IBS: Quanto a capacidade os recursos humanos que temos pessoal treinado para atendimento na secretaria e parte óptica. Temos ainda múltiplos docentes envolvidos no processo de atendimento aos pacientes e supervisão dos estudantes. A maioria do nossos docentes têm formação feita em Moçambique e pós-graduações (especializações clínicas e mestrados) feitas em diferentes países, como na Espanha, Porto Rico, India, Brasil, Portugal (Etc). Temos neste momento cinco docentes fora a fazerem pós-graduação - o que permite que tenhamos resultados satisfatórios, por conta das diversas experiências que advém das formações dos nossos profissionais.
DCI: Como avalia a Clínica olhando para os padrões Internacionais?
IBS: A Clínica é óptima. Tanto os nossos visitantes estrangeiros e nacionais, assim como os pacientes têm geralmente aplaudido, não só os nossos serviços, assim como as instalações. Importa realçar que a clínica respeita os padrões internacionais e tem padrões básicos para ser de primeira classe.
DCI: Quais os maiores problemas (nos pacientes) que tem sido detectados ao nível das consultas feitas?
IBS: São vários. Com maior frequência encontramos doenças infecciosas, erros retractivos e outros. Maior parte dos nossos pacientes saem satisfeitos porque apreciam a atenção durante o atendimento e conseguem adquirir óculos, de qualidade e a preço acessível nas nossas instalações.
DCI: Pontos fortes e pontos por fortalecer?
IBS: Por fortalecer (já estamos a trabalhar no assunto): Estamos focados em ter mais recurso humanos, docentes, por isso já enviamos cinco para fora do país e poderemos contar, em breve, com mais pessoas.
Precisamos olhar ainda para o factor da manutenção dos equipamentos, alguns que estão estagnados. Estamos a cogitar em procurar um técnico formado para a gestão dos equipamentos.
Olhando aos pontos fortes: temos uma clínica espaçosa com numero significante de equipamentos funcionais (de qualidade), uma boa atenção e qualidade no atendimento.
DCI: Olhando para as consultas, qual seria a finalidade de um exame optométrico e seus impactos?
IBS: O objectivo principal de fazer a consulta seria primeiro o de fazer perceber que existem diferentes tipos de pacientes, os que não conseguem ver de longe, não conseguem ver de perto e outros, ou seja, pacientes com diferentes sintomas. Os que já vêm com queixas, atendemos as queixas e damos o devido manejo clínico. Os que vêm sem queixas, para fazer controlo, encorajamos a fazer controlo, pelo menos uma vez ao ano, para saber se tem ou não algum problema, pois existem patologias oculares que não tem sintomas (assintomáticas), mas as alterações acabam acontecendo de forma silenciosa no olho. Falo do glaucoma, por exemplo. Os pacientes que não vão à consulta regular podem estar, aos poucos a perder a visão, e só vão perceber tardiamente.
DCI: Quais os impactos de uma graduação errada?
IBS: Quando são erros retrativos, fazemos consultas completas, de modo que com todos detalhes, tenhamos a melhor resposta para uma prescrição adequada. É um conjunto que conta com a colaboração do paciente, paciência e atenção do clínico. Quando a pessoa é mal prescrita, depois de algum tempo vai se sentir desconfortável com a prescrição - daí que vai regressar à clínica para obter esclarecimentos. Mas também pode desenvolver dores de cabeça/cefaleias (etc). Como nossa responsabilidade garantimos a prescrição adequada e se necessário, damos outras alternativas, para melhor resolver a sua situação.
DCI: Quais as subespecializações que tem disponíveis na clínica?
IBS: Temos várias, desde Optometria pediátrica, Optometria Geriátrica, onde atendemos idosos e as normais que servem para os demais. Cada idade tem a sua particularidade. Mas também outras que têm a ver com a necessidade de uso de lentes de contacto - que pensamos em disponibilizar para breve.
Neste momento fazemos aconselhamentos e damos dicas para melhorar a condição de vida as pessoas. Quanto a terapia visual (parte da ortóptica), que são exercícios dados aos pacientes para melhorar a coordenação entre os olhos.
(Sualé Puchar) (Hermenegildo Tomo)
Importa destacar o facto de a Clínica ter formado recentemente, no Hospital Central de Maputo, com o apoio da OCULARIS (organização espanhola), dois dos seus profissionais (Hermenegildo Tomo e Sualé Puchar), em Próteses ocular - o que vai impulsionar na adoção de medidas alternativas para os pacientes necessitando de próteses oculares, assim como ampliar os serviços lá prestados.