“Queremos abraçar a pesquisa de recursos hídricos”
- Claudino Chaquisse – Director do Curso de Engenharia
Investir num ensino cada vez mais qualitativo sempre foi um caminho e meta que a Universidade Lúrio (UniLúrio) tem abraçado, com o intuito de fazer do ensino virado para excelência uma realidade e, acima de tudo, um meio para permitir a capacitação de estudantes, para que possam ajudar a resolver os problemas sociais. Nessa perspectiva, o Departamento de Comunicação e Imagem (DCI), numa conversa tida com o Director do Curso de Engenharia, Claudino Raul Chaquisse, ficou a saber dos planos, projectos e metas que aquele curso tem nas “mangas”, de modo a elevar a qualidade do ensino, aliando a teoria à prática.
Departamento de Comunicação e Imagem (DCI): Pode nos dar um olhar sistemático sobre o laboratório de Engenharia?
Claudino Chaquisse (CC): É pertinente. Devo dizer, em primeiro lugar, que o curso de Engenharia geológica é um curso, que de princípio, usa o conhecimento da geociência, geologia e geofísica para dar resposta às necessidades de cursos como a engenharia civil ou actividades de construção civil, exploração mineira, assim como na construção de pontes e túneis, a parte que está relacionada à vertente rocha, a classificação das rochas, processos rochosos, solos, no caso de exploração da minas, no desenho mesmo da própria mina, para além da dinâmica de exploração do próprio recurso.
DCI: Um olhar em volta do laboratório, aliado com os cursos leccionados na Faculdade de Engenharia (FE).
CC: No curso que estamos a ministrar na UniLúrio, uma das vertentes que temos, apesar de ser um curso de engenharia, é desenhar um currículo para que o estudante saia com competências, pelo menos iniciais e/ou preliminares na área de pesquisa, prospecção de recursos minerais. Para isso, temos adquirido as amostras dos minerais para que os estudantes saiam conhecendo, não só de forma teórica, como também na prática (ter a interacção com o conhecimento). Temos amostras de minerais, os diversos tipos de rocha. Mas, associado a isso, temos no plano de estudo, actividades práticas, dentre elas, trabalho de campo em que o estudante vai ver de forma natural, no campo, a própria rocha, os minerais, fazer a sua descrição, a sua medição. Foi nesse sentido que adquirimos martelos, tijolos, GPS, Bússolas e mapas topográficos. Temos também tendas de campo, que é uma logística necessária nesse trabalho de campo. E, porque parte desse trabalho não é “fazível” no campo, pois há necessidade de fazer descrição de minerais e identificá-los com microscópio, temos microscópios petrográficos.
DCI: E como tratam esses materiais colhidos?
CC: Porque há necessidade de enviar esse material para análises químicas, temos uma máquina para cortar rocha e depois temos de identificar os sítios para se fazer a descrição. Para tal, temos um moedor de rochas para fazer análises químicas. Trata-se de um conjunto de equipamentos que dá suporte ao processo de ensino e aprendizagem para dar maior competência e eficiência na formação do estudante, como também fazer a prestação de serviços.
DCI: Existem outras áreas nas quais se vão focar?
CC: A outra área que queremos abraçar é a pesquisa de recursos hídricos e também vai ser potencial na parte da pesquisa mineral que é a componente geofísica. Temos, nesse sentido, adquirido um equipamento, resistivimetro; até porque um dos métodos eléctricos, usado na prospecção de recursos hídricos nas zonas de aquíferos, também pode ser usado no mapeamento dos solos, para questões de uso na engenharia civil.
Temos aqui um resistivimetro que vai servir não só para aulas, mas também na componente prestação de serviços, na parte virada a geotecnia. Pretendemos fazer estudos de solos e também de maciços rochosos. Até então, essas serão áreas em que teremos sinergias com o curso de Engenharia Civil, ministrado pela Faculdade de Engenharias.
DCI: Existem equipamentos para permitir bons resultados por parte do estudante?
CC: O que vai dar a suficiência do estudante quanto a competência não é só o material. Tem sido feito um exercício de revisão curricular, no sentido de incorporar as necessidades actuais do mercado emergente e mesmo os que estão nessa actividade mineira e de construção. Foi feita, ainda, uma revisão nas disciplinas porque havia fragilidade nas componentes laboratoriais. Por isso, adquiriram-se novos equipamentos para dar resposta às insuficiências do currículo passado. É importante voltar a frisar que o equipamento só será útil se os estudantes usarem e cuidarem do mesmo para que os outros que aqui vierem encontrem em perfeitas condições. A gestão dos equipamentos é uma questão que envolve a colaboração de vários sectores incluindo o próprio estudante.
DCI: Pode nos falar dos docentes?
CC: Existe um projecto de formação do corpo docente, que passará a ser incorporado em actividades práticas, de prestação de serviços. Haverá ainda espaço de interacção com os geólogos e outros profissionais mais experientes, que acreditamos que vão deixar um legado para esses docentes, aliado ao facto de tais docentes estarem focados em fazer mestrado em outras áreas afins e necessárias para o curso.
DCI: Fazem registo das descobertas?
CC: Quem nos dera ter a sorte de descobrir um novo mineral que não tenha sido registado. Esse é o desejo de todos. Mas, até chegar a uma conclusão de que é um novo mineral, é preciso fazer uma revisão bibliográfica.Isso, passa por uma caracterização, tanto física, como química, para distinguir de tantos outros minerais e chegar a conclusão de que ele é um novo, porque nunca tinha sido descoberto.
Este é um exercício exaustivo e não fácil. Quem nos dera termos a graça! O que temos como intenção, que é um pouco mais facilitada, é que os minerais que nós formos a encontrar e que não tivermos aqui no nosso laboratório, nosso museu, iremos colher e catalogar (dar nome, características e o lugar da sua ocorrência - onde foi identificado). Para isso, contamos com a parceria dos operadores do ramo mineiro; eles têm mais possibilidade porque estão no dia-a-dia nessa actividade, então, podem partilhar também connosco esses minerais que forem encontrados aqui em Cabo-Delgado.
DCI: Pode nos falar de programas de extensão, mais concretamente da relação com as comunidades?
CC: Um dos lemas da UniLúrio é a interacção com a comunidade. Esperamos que, mais do que estar a formar estudantes, possamos contribuir com algo de concreto para a comunidade. Por exemplo, temos um analisador de água: podemos falar em relação a essa interacção com as zonas de contaminação, avaliando a qualidade das águas e os pontos onde há colheita dessas águas. Um dos nossos desafios é termos a cadeira de desenvolvimento comunitário de forma prática, para uma real contribuição na comunidade e prestarmos também serviços, uma vez que a manutenção desse equipamento é muito cara. Para tal, é preciso rentabilizar os nossos serviços, produzindo receitas, para que num futuro em que estes não sejam prestativos, possamos adquirir um outro equipamento.
O outro desafio é que os estudantes possam aproveitar no máximo o que nós temos aqui. Esse desafio não é só dos estudantes, mas também dos docentes, que devem usar o equipamento de forma eficaz e eficiente, para que nos tornemos numa referência, numa opção, dado que estamos num terreno fértil e oportuno que é a zona norte, uma zona rica em recursos minerais e com uma escassez desse tipo de laboratórios.