Mia Couto conversa com docentes e estudantes da FCSH e apela o amor à escrita
O escritor moçambicano, Mia Couto instou a comunidade académica da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Lúrio na Ilha de Moçambique a abraçar a escrita. Numa conversa havida recentemente entre o escritor, que também é Biólogo e Professor com o Clube de Leitura e Escrita da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas que integra para além de docentes e estudantes universitários, estudantes de ensino básico da Ilha de Moçambique disse que “não há experiência quando se escreve um livro”. O escritor disse também que membros do Clube de Leitura e Escrita não podem ter medo de assumir que “não sabem e nunca devem se deixar abater por isso, pois, ninguém sabe tudo neste mundo”.
A Faculdade de Ciências Sociais Humanas da UniLúrio tem estado a proporcionar momentos de leitura e escrita para a comunidade da Ilha de Moçambique através do seu espaço de socialização de leitura e discussão criteriosa de livros e artigos, visando desenvolver habilidades intelectuais e conhecimentos de forma colectiva no seio de estudantes e aos demais interessados, através das memórias literárias. Foi neste Clube de Leitura e Escrita em que Mia Couto explicou que “escrevi mais de 30 livros e não me sinto experiente, porque cada vez mais que escrevo parece a primeira vez. Não fiquem havidos em ser famosos, porque ser famoso não significa ser feliz” disse para depois dar o seu exemplo “a minha grande felicidade são os meus 3 filhos e saber que sou útil para a sociedade”.
Mia Couto apelou aos membros do Clube de Leitura e Escrita da FCSH para não se confundir com uma empresa, porque segundo suas palavras “as pessoas não têm CV, mas sim uma história. A vossa vida deve ser caracterizada por respeito aos outros e o bem servir aos que mais precisam, e não só”.
O escritor que esteve na Ilha para um filme que será adaptação de uma das suas obras, na Fortaleza de São Sebastião, teve a oportunidade de responder a algumas perguntas dos jovens estudantes e docentes da FCSH. Respondendo a uma primeira pergunta, disse que a inspiração para escrever é sempre um facto externo que interioriza. “Quando escrevemos, devemos saber que somos uma pessoa só e que dentro de nós há muitas pessoas. Imagine que eu encontre uma criança a ser barbaramente espancada, tenho que me colocar no lugar daquela criança. Ao escrever não sou eu a escrever, mas sim aquela criança”.
A uma pergunta sobre a acessibilidade das suas obras nas línguas bantu, Mia Couto disse “gostaria que as minhas obras estivessem traduzidas para as nossas línguas bantu, mas o problema é que elas ainda não estão padronizadas. O que devemos fazer é padronizar as nossas línguas para não haver contestações, porque tenho algumas obras já traduzidas para Ronga e houve várias correntes, uns dizendo que aquele Ronga não era próprio e outros dizendo que era”. O escritor também foi questionado sobre possíveis medos e/ou intimidações por conta das crónicas que faz sobre assuntos candentes da nação. Em resposta disse que “nunca recebi ameaças e não me sinto intimidado, pois, quando escrevo não ataco pessoas, mas sim ideias e comportamentos”.
O Director da Faculdade de ciências Sociais e Humanas da Universidade Lúrio na Ilha de Moçambique agradeceu a disponibilidade do escritor para dialogar com a comunidade académica da FCSH e disse foi “uma oportunidade única e marcante na vida da FCSH, pois não são todas as vezes que se tem figuras como Professor Mia Couto numa Faculdade que acaba de emergir, como a nossa". Nicaquela disse que “ conversar com o Clube de Leitura e Escrita da Faculdade revela de facto a sua paixão pela vida de ensinar, para tal merece o nosso agradecimento”.
Recorde-se que o Clube de leitura e escrita da FCSH reúne às 4as feiras das 16-17h.